PIM! – Ilustradores e escritores transformam-se em personagens icónicas no FÓLIO Ilustra

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A décima edição da PIM! – Mostra de Ilustração para Imaginar o Mundo Sem Fronteiras apresenta-se este ano com uma proposta diferente. O trabalho de 85 ilustradores deu origem a três livros que a curadora do FÓLIO Ilustra, Mafalda Milhões, define como “objetos de arte contemporânea”. A exposição inclui ainda instalações de Nastya Varlamova, ilustradora russa que vive em Portugal, as obras dos vencedores do Prémio Nacional de Ilustração 2025 e fotografias em grande formato dos membros do coletivo do FÓLIO Ilustra desde 2015, que surgem personificados em figuras do mundo imaginário. Os textos são de Gonçalo M. Tavares.

Mafalda Milhões, admiradora de D. Quixote, acabou por vestir a pele de Mary Poppins, a ama do musical de 1964 que defendia que “tudo é impossível até ser possível”. A curadora considera que esta frase a representa melhor. A escolha das personagens da literatura, cinema, música ou banda desenhada que cada artista encarnou resultou de uma “discussão filosófica” e de conversas sobre “medos e sonhos” com João Francisco Vilhena, o artista visual que captou todas as imagens.

“As fotografias ilustram os artistas independentes e foram criadas com as suas ideias e com pequenas coisas que trouxeram, em tempo recorde, para criar imagens plásticas”, explicou João Francisco Vilhena na cerimónia de inauguração. O escritor Afonso Cruz identifica-se com Corto Maltese, personagem de banda desenhada criada em 1967, a artista plástica Fernanda Fragateiro assume-se como Pippi das Meias Altas, que celebra 80 anos em 2025, e o ilustrador Nuno Silva escolheu Bordallo Pinheiro, no ano em que Zé Povinho completa meio século. “Através de nós, trouxemos outros artistas, com obras intemporais, que Vilhena transformou em esculturas, após horas de trabalho em estúdio”, revelou Mafalda Milhões.

Jorge Silva, responsável pelas composições gráficas, disse sentir muito orgulho por fazer parte deste projeto e desta “família de artistas”. Na construção da história do cartaz, inspirou-se em temas como a feira popular ou as touradas. “Muito mais do que resiliência e superação das dificuldades materiais, endémicas neste país, conseguimos traçar um caminho extraordinário”, afirmou. O designer manifestou ainda satisfação por também integrar a mostra, onde assume o papel de Spock, personagem da série de ficção científica “Espaço 1999”, célebre nos anos 70.

Emocionada com o resultado final, a curadora do FÓLIO Ilustra afirmou que “os retratos ilustrados mostram a capacidade infinita de ser muitas coisas” e que “não há limites para imaginar e para criar”. Sobre o tema “Fronteiras”, explicou que não foi mencionado em nenhum texto e defendeu que nem sempre são físicas ou más, porque permitem ver a parte de dentro e a parte de fora. “Nós, ilustradores, apesar de parecer que não fazemos coisas sérias, somos pessoas para levar a sério”, sublinhou. “A ilustração, enquanto expressão artística, é muito importante e, por si só, derruba muitas fronteiras, como a língua, ou a linguagem verbal e não verbal.”

Tributo a Aurélio e a Pinho

“Os dez anos da PIM! são a possibilidade de celebrar a liberdade no espaço onde estamos, Galeria Nova Ogiva, criada pelo escultor José Aurélio, que foi sempre um encontro de artistas”, explicou Mafalda Milhões. “Nasceu em 1970, durante a ditadura, e as portas eram uma fronteira. Do lado de fora ficava o Portugal censurado, e do lado de dentro o Portugal livre”, recordou. “É a galeria do povo, para criar em liberdade, e para que as pessoas possam continuar a criar da mesma forma.”

A curadora recordou José Pinho, mentor do FÓLIO que queria tornar Óbidos numa livraria a céu aberto, e a família da Ler Devagar, que considera fazer parte da sua própria família, antes de Óbidos se ter transformado em Vila Literária. “Óbidos foi imaginado em Lisboa, à mesa do café, na Ler Devagar, na livraria Bichinho Conto, na Correntes de Escrita, na Póvoa de Varzim”, assegurou. Elogiou ainda Telmo Faria, presidente da Câmara de Óbidos em 2015, por lhes ter dado “espaço para sonhar e desenvolver qualquer coisa que era impossível de fazer”.

“Embora a vida não corra sempre como queremos, de as coisas não parecerem ter lógica, e da maluqueira do mundo, tenho um problema: escolhi ser artista, estar viva, e tenho de ver, de olhar, de usar a consciência, de ter fé e de criar. Se não, estaríamos todos doentes”, afirmou Mafalda Milhões. “Combatemos o mundo assim, a fazer o melhor que sabemos, a acreditar uns nos outros, e celebrar os dez anos da PIM!” Revelou ainda que o objetivo é ilustrar todos os ilustradores contemporâneos até 2030. “Isto ainda vai dar muito que falar”, prometeu.

A cerimónia de inauguração da PIM! foi antecedida pela entrega do Prémio Nacional de Ilustração 2025, atribuído pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas a André da Loba, pelas ilustrações do audiolivro “Contos Cantados”. Carolina Celas recebeu uma menção especial pelas ilustrações de “Deputados do Futuro, Olá!”, tal como Mariana Rio, autora do texto e da ilustração de “Transparente”. A PIM! está aberta ao público entre as 10h00 e as 20h00, todos os dias do FÓLIO, com conversas, apresentações de livros e sessões de poesia integradas na programação da curadoria FÓLIO Mais.

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