Fundador da Ordem do Trevo deixa legado de dedicação à comunidade e ao desporto
As Caldas da Rainha perderam uma das suas personalidades mais marcantes com o falecimento de José Viegas, aos 63 anos. Natural do Porto, tornou-se numa referência incontornável da vida cívica e associativa da cidade termal, onde construiu um percurso notável entre o associativismo, o desporto e a política local.
José Viegas ficará para sempre associado à criação da Ordem do Trevo, instituição de solidariedade social que fundou em 2011 e que hoje constitui um pilar fundamental de apoio às famílias mais necessitadas do concelho. Sob a sua liderança, a associação desenvolveu uma rede de apoio que beneficia semanalmente cerca de setenta famílias, totalizando mais de trezentas e cinquenta pessoas, entre as quais cento e quatro crianças.
O projeto nasceu da convicção pessoal de que “ao nosso lado existem pessoas que precisam do nosso apoio” e materializou-se através do estabelecimento de parcerias estratégicas com empresários, entidades públicas e cidadãos. Esta capacidade de mobilização transformou a Ordem do Trevo numa referência local de solidariedade, demonstrando como a iniciativa individual pode gerar impacto coletivo duradouro.
Paralelamente ao trabalho social, José Viegas manteve uma ligação profunda ao ténis de mesa, modalidade onde conquistou dezenas de títulos nacionais. O seu palmarés incluía passagens por clubes de prestígio como FC Porto, Benfica, Sporting e Sporting das Caldas, além de várias convocatórias para a seleção nacional. Mesmo em idade avançada, continuava a competir ao mais alto nível, tendo-se sagrado tricampeão nacional de veteranos no ano anterior.
A paixão pelo desporto estendia-se às funções dirigentes. Ocupava o cargo de vice-presidente da Federação Portuguesa de Ténis de Mesa, com responsabilidades nas áreas financeira e das seleções nacionais, e coordenava a recém-criada secção de ténis de mesa do Caldas Sport Clube. Acumulava ainda as funções de diretor dos Dragões do Oeste, demonstrando um envolvimento transversal no panorama desportivo regional.
No plano político, integrava as estruturas locais do PSD, onde exercia as funções de secretário-geral da comissão política concelhia. Constava como número quatro da lista da coligação Somos Caldas AD – PSD/CDS-PP às últimas eleições para a Assembleia Municipal, confirmando a confiança que os correligionários depositavam na sua capacidade de intervenção cívica.
A versatilidade de interesses manifestava-se também na área cultural. Preparava o lançamento do seu segundo livro de crónicas, dando continuidade a um trabalho de reflexão sobre a realidade local que partilhava regularmente com os leitores da imprensa regional. Esta faceta literária complementava um perfil multidisciplinar que poucos conseguem manter com tanta coerência.
Em declarações recentes, José Viegas confessava que “aquilo de que mais gosto é estar ocupado”, filosofia de vida que explica o seu envolvimento simultâneo em projetos tão diversos. A sua motivação residia na possibilidade de “dar um contributo positivo” em cada área onde intervinha, princípio que norteou toda a sua ação pública.
Mesmo enfrentando adversidades pessoais nos últimos tempos, manteve o otimismo que o caracterizava. “Gosto muito de sorrir até ganhar estas rugas de expressão. Mas sobretudo de ser feliz e proporcionar alguma felicidade aos outros”, afirmava, revelando uma perspetiva de vida centrada na partilha e na solidariedade.
O impacto da sua morte reflete-se nas múltiplas homenagens recebidas. A própria Ordem do Trevo reconhece-o como “homem de causas” que “se dedicou de alma e coração” ao projeto, deixando “um legado inquestionável”. O presidente da Câmara Municipal, Vítor Marques, destaca-o como “um homem de ação, com uma energia contagiante e um compromisso inabalável com o bem-estar dos outros”.
As manifestações de pesar estendem-se a instituições como o Caldas Sport Clube, que lhe reconhece o mérito no relançamento do ténis de mesa, e a ACCCRO – Associação Empresarial das Caldas da Rainha e Oeste, que desenvolveu várias parcerias com a Ordem do Trevo. Estas reações confirmam a transversalidade do seu contributo para a comunidade local.
O desaparecimento de José Viegas priva as Caldas da Rainha de uma figura catalisadora, capaz de transformar ideias em projetos concretos e de mobilizar vontades para causas comuns. O seu legado permanece vivo nas instituições que ajudou a criar e consolidar, garantindo que o seu exemplo de cidadania ativa continuará a inspirar futuras gerações de caldenses.