Portugal regista a menor taxa de desemprego em dois anos, mas apenas 2% dos trabalhadores recebe mais de 3.000 euros por mês
O mercado de trabalho português continua a dar sinais de vitalidade no segundo trimestre de 2025, com o emprego a bater novo recorde e o desemprego a recuar para mínimos de dois anos. A análise da Randstad Portugal aos dados do Instituto Nacional de Estatística revela uma realidade dual: enquanto o número de profissionais com salários acima dos 3.000 euros mensais duplicou face a 2023, a grande maioria dos trabalhadores mantém-se em patamares salariais mais baixos.
A Randstad, analisou os resultados do Inquérito ao Emprego do segundo trimestre e alerta através da sua divisão de investigação, a Randstad Research, para o aumento das disparidades salariais no mercado português. A empresa, com forte presença no país há mais de duas décadas, acompanha regularmente a evolução do mercado de trabalho nacional através de estudos especializados.
Salários altos concentram-se numa elite
O panorama salarial revela, contudo, uma concentração de rendimentos elevados numa franja muito reduzida da população ativa. O número de trabalhadores por conta de outrem que aufere mais de 3.000 euros líquidos mensais passou de 51.800 em 2023 para 98.300 no segundo trimestre deste ano – um crescimento de 90% que representa a maior cifra de sempre neste escalão.
Apesar desta evolução notável, estes profissionais constituem apenas 2% do total de empregados por conta de outrem, o que evidencia a concentração destes aumentos numa minoria privilegiada do mercado laboral.
A remuneração líquida média nacional situou-se nos 1.264 euros em junho, mais 1,1% do que no mesmo período do ano anterior. Mas esta média esconde profundas assimetrias entre categorias profissionais. Os executivos e diretores auferem, em média, 63% acima da média nacional, enquanto os trabalhadores não qualificados ficam 37% abaixo e os agricultores 27% aquém do valor médio.
Forças Armadas lideram aumentos salariais
Entre os setores que mais beneficiaram de aumentos salariais destacam-se as Forças Armadas, com crescimentos trimestrais de 13,2% e homólogos de 18,9%. Na perspetiva de longo prazo, este setor acumula uma valorização de 71,6% nos últimos dez anos.
Os operadores de instalações e máquinas registaram a segunda maior valorização da década (+67,9%), seguidos pelos trabalhadores não qualificados (+66,6%). Em sentido inverso, os trabalhadores dos serviços pessoais e vendedores, bem como os da indústria e construção, viram os seus rendimentos contrair 0,6% no último trimestre.
Serviços impulsionam criação de emprego
O crescimento do emprego concentrou-se sobretudo no setor dos serviços, com o alojamento e restauração a liderar os ganhos (+6,7%), seguido pela logística (+6,9%). Por faixas etárias, o grupo dos 25 aos 34 anos foi o que mais cresceu, com mais 18.000 trabalhadores, enquanto a população ativa mais sénior (65-89 anos) aumentou em 16.800 pessoas, representando um crescimento de 7,5%.
O teletrabalho continuou a expansão iniciada durante a pandemia, abrangendo agora 20,9% do total de empregados – mais 12.800 profissionais do que no trimestre anterior. A Grande Lisboa mantém-se como a região com maior penetração do trabalho remoto (32,7%), contrastando com os Açores, onde apenas 9,1% dos profissionais trabalha à distância.
Desafios persistem
Apesar dos indicadores positivos no emprego e do crescimento dos salários no topo da pirâmide, os dados sublinham os desafios que o mercado de trabalho português ainda enfrenta. A concentração dos aumentos salariais numa pequena elite profissional sugere que grande parte dos trabalhadores continua sem beneficiar significativamente do crescimento económico.
Esta dualidade coloca questões sobre a sustentabilidade a longo prazo do modelo de crescimento do emprego, numa altura em que a competitividade da economia portuguesa depende cada vez mais da capacidade de atrair e reter talento qualificado, mas também de assegurar condições dignas para o conjunto da população ativa.