O Festival de Ópera de Óbidos concluiu mais uma edição com resultados excecionais, tendo atraído perto de dois mil espectadores ao longo de três semanas de programação. O evento, que decorreu entre 6 e 21 de setembro, registou uma taxa de ocupação de 90% da lotação disponível, confirmando o crescimento artístico e o interesse do público por esta proposta cultural.
O último fim de semana ficou marcado pela apresentação da ópera “O Segredo de Susanna”, em programa duplo com o bailado “El Amor Brujo”, de Manuel de Falla. Ana Vieira Leite, Nazar Mykulyak e Gonçalo Ramalho destacaram-se no primeiro espetáculo, enquanto Maria Luísa de Freitas emprestou a sua voz consagrada à obra espanhola, acompanhada pelos bailarinos Ivanoel Tavares e Catarina Ribeiro. Ambas as apresentações contaram com a Orquestra Filarmónica Portuguesa, sob a batuta do maestro Darrell Ang.
Descentralização e diversidade de espaços
A edição de 2025 reforçou a aposta na ópera descentralizada, com apresentações em quatro locais distintos: o Parque Tecnológico de Óbidos, a Praça da Criatividade, o Museu Abílio Mattos e Silva e o Convento de São Miguel das Gaeiras, que apresentou uma nova configuração este ano.
O festival envolveu um total de 243 profissionais, incluindo 26 cantores líricos, dois bailarinos, 67 coralistas do Coro Sinfónico Lisboa Cantat e do Coro Voces Cælestes, além de 99 músicos da Orquestra de Câmara Portuguesa e da Orquestra Filarmónica Portuguesa. A produção técnica e artística mobilizou cerca de 49 profissionais.
Programação entre tradição e contemporaneidade
A programação desta edição distinguiu-se pela combinação entre talento nacional e internacional, desde vozes consagradas a artistas emergentes. Destacaram-se nomes como o barítono ucraniano Nazar Mykulyak e o contratenor belga Logan Lopez Gonzalez, ao lado de encenadores como André Heller-Lopes e Max Hoehn, do compositor austríaco Christoph Renhart e do maestro singapurense Darrell Ang.
O festival apostou numa programação acessível a diferentes públicos e gerações, desde récitas exclusivas para a comunidade escolar até óperas concebidas para famílias e jovens. As conversas prévias às estreias absolutas encheram a capela do Convento, demonstrando a curiosidade do público pelos processos criativos.
A Gala dedicada a Bizet exemplificou esta abordagem de acessibilidade, combinando árias célebres com a pouco conhecida “Ode Sinfónica Vasco da Gama”. O equilíbrio entre tradição e inovação refletiu-se na apresentação de óperas consagradas como “L’Enfant et les Sortilèges” e “Il Segreto di Susanna”, ao lado de criações contemporâneas como “A Menina, o Caçador e o Lobo” de Vasco Mendonça e “Café Europa” de Christoph Renhart.
Parceria consolida projeto cultural
A diretora artística Carla Caramujo manifestou-se “extremamente grata e satisfeita com a alta qualidade, entrega e generosidade artística” da edição, sublinhando que “a adesão do público a toda a programação, incluindo as obras contemporâneas e as conferências pré-estreia, foi surpreendente e entusiasmante”.
O presidente do Município de Óbidos, Filipe Daniel, destacou o orgulho em ver este evento “levar a ópera ao público, inclusive a um público jovem”, considerando-o “uma oportunidade para os residentes” e “um evento que atrai visitantes e nos dá projeção além-fronteiras”. O autarca confirmou a intenção de renovar a parceria com a ABA – Banda de Alcobaça Associação de Artes para o quadriénio 2027-2030.
José Rafael Rodrigues, diretor geral do festival, sublinhou que “a melhoria das condições criadas para artistas, equipas e público, bem como o alargamento da programação a três semanas” resultou da colaboração entre a ABA e o município. O responsável garantiu que “em setembro de 2026 estaremos de regresso com ambição renovada”, procurando estabelecer o Convento de São Miguel das Gaeiras como a “casa da Ópera” no Oeste.
O festival contou com o apoio da Direção-Geral das Artes, BPI/Fundação ‘la Caixa’, Círculo Richard Wagner Portugal e o mecenato da Égide – Associação Portuguesa das Artes.