A vila de Óbidos acolhe desde a passada sexta-feira uma exposição dedicada a António Carvalho da Silva Porto (1850-1893), um dos pintores mais influentes do século XIX português. “A Paisagem no Desenho e na Pintura – Silva Porto” pode ser visitada na Galeria Nova Ogiva até 14 de setembro, oferecendo ao público uma oportunidade única de descobrir o trabalho deste pioneiro do naturalismo em Portugal.
A mostra, com curadoria de João Paulo Queiroz – professor universitário e presidente da Sociedade Nacional de Belas Artes –, reúne 60 desenhos e várias pinturas do artista, cuidadosamente selecionadas de entre cerca de 500 obras que compõem a coleção da instituição. Este conjunto permite traçar um retrato abrangente da evolução artística de Silva Porto, desde os primeiros anos de formação na Academia de Belas Artes do Porto até à maturidade criativa.
Do Porto a Paris: um percurso de renovação
O visitante pode acompanhar o percurso formativo do pintor através das obras expostas, que documentam a sua passagem por Paris, onde assistiu à histórica exposição dos Impressionistas em 1874. Esta experiência internacional marcou profundamente a sua visão artística, preparando-o para o regresso a Portugal, onde viria a revolucionar o ensino das artes visuais.
As peças em exposição revelam o olhar moderno que Silva Porto desenvolveu sobre o território português, caracterizado pela prática do ar-livrismo e por uma atenção especial aos elementos identitários da paisagem nacional. A sua obra documenta não apenas os cenários naturais, mas também as gentes e os costumes do país, numa abordagem que antecipou muitas das preocupações da arte moderna.
Óbidos integra rede nacional de arte contemporânea
Esta exposição insere-se no projeto “Paisagens Visuais”, resultado de uma candidatura conjunta apresentada à Direção-Geral das Artes no âmbito da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea (RPAC). A iniciativa conecta quatro territórios distintos – Lisboa, Foz Côa, Amarante e Óbidos –, envolvendo instituições de referência nacional e internacional numa reflexão partilhada sobre arte, paisagem e território.
A entrada de Óbidos na RPAC, oficializada em março de 2023, representa um marco importante para a Galeria Nova Ogiva, consolidando o seu papel como espaço central na programação artística contemporânea portuguesa. Esta integração permite ao município desenvolver projetos mais ambiciosos e estabelecer parcerias com instituições de excelência.
Programação futura já definida
O compromisso de Óbidos com a arte contemporânea estende-se para além desta exposição. Entre dezembro de 2025 e fevereiro de 2026, a Galeria Nova Ogiva apresentará “Um Silabário por Reconstruir”, projeto que reunirá obras da Coleção de Arte Contemporânea do Estado, da Caixa Geral de Depósitos e da prestigiada Coleção António Cachola.
Fundada em 1970 por iniciativa do escultor José Aurélio e reaberta em 2005, a Galeria Nova Ogiva tem mantido uma linha de programação focada na criação, diálogo e experimentação artística. A instituição distingue-se pela valorização da relação entre as obras, o espaço arquitectónico e a comunidade local.
Com esta exposição sobre Silva Porto, Óbidos reafirma a sua posição como território de referência para a arte contemporânea em Portugal, oferecendo ao público uma oportunidade rara de contactar com a obra de um dos mestres da pintura portuguesa numa das mais belas vilas históricas do país.