Portugal recupera gradualmente da maior falha energética das últimas décadas, que afetou toda a Península Ibérica na tarde de segunda-feira. De acordo com informações divulgadas pela REN nas primeiras horas desta terça-feira, a rede elétrica nacional “está perfeitamente estabilizada”, tendo sido concluída a reposição do funcionamento de todas as subestações da Rede Nacional de Transporte por volta das 23h30 de ontem.
O apagão, que teve início durante a manhã de segunda-feira, provocou uma série de constrangimentos sem precedentes em território nacional. As comunicações foram interrompidas, semáforos deixaram de funcionar, estabelecimentos comerciais encerraram as portas e verificou-se uma corrida desenfreada a supermercados e postos de combustível, muitos destes também com limitações no funcionamento.
Segundo dados divulgados pela E-redes, até à meia-noite de terça-feira estavam parcialmente operacionais 424 subestações, garantindo energia a cerca de 6,2 milhões de clientes. Contudo, a empresa não conseguiu estabelecer uma previsão concreta para a reposição integral do serviço em todo o território nacional.
Os hospitais e serviços essenciais conseguiram manter o funcionamento graças a sistemas de geradores de emergência, o que permitiu evitar consequências mais graves, particularmente para doentes que dependem de equipamentos médicos elétricos.
Na manhã desta terça-feira, persistem ainda alguns constrangimentos no setor dos transportes. O metropolitano de Lisboa continua sem funcionar, com várias estações encerradas, embora exista a expectativa de retoma do serviço ao longo do dia. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, já adiantou que não será possível à capital portuguesa regressar à plena normalidade durante o dia de hoje.
Já no norte do país, o metropolitano do Porto opera sem restrições. Quanto aos comboios, a CP normalizou a circulação, havendo apenas a registar a suspensão de algumas ligações de longo curso durante a manhã. A Fertagus, que assegura a ligação ferroviária entre Lisboa e a Margem Sul, também restabeleceu a sua operação normal.
A situação nos aeroportos nacionais continua a inspirar cuidados, com voos cancelados e atrasos significativos. A ANA Aeroportos mantém a recomendação para que os passageiros contactem as respetivas companhias aéreas antes de se deslocarem aos aeroportos.
Em comunicação ao país, o primeiro-ministro Luís Montenegro garantiu que “apesar de todas as adversidades resultantes de uma crise inédita, os serviços essenciais mantiveram-se em funcionamento e o Estado revelou capacidade de resposta”. O chefe do Governo português não confirmou a causa do problema, adiantando apenas que a falha não teve origem em Portugal, estando presumivelmente relacionada com “um aumento abrupto da tensão na rede elétrica espanhola” que terá feito “disparar os mecanismos de segurança que levaram a este apagão”.
Face à gravidade da situação, o Governo reuniu extraordinariamente e decretou situação de crise energética. Uma nova reunião do Conselho de Ministros está agendada para as 11h30 de hoje para nova avaliação do cenário.
Em tempo de campanha eleitoral, o assunto não passou despercebido no debate político nacional. O líder do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, referiu-se a um “momento de tremenda anormalidade” e criticou a atuação da Proteção Civil.
A exata origem do apagão continua por apurar, embora várias autoridades já tenham excluído a hipótese de sabotagem ou ciberataque. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, fez questão de sublinhar que “até ao momento, não há indicações de qualquer ataque informático”.
Em Espanha, onde o apagão também causou graves perturbações, a rede elétrica já foi restaurada em mais de 99%, segundo informações divulgadas esta manhã pela Red Eléctrica. O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, anunciou a abertura de uma investigação às causas do incidente, apontando para uma “forte oscilação” na rede europeia como possível origem do problema.
O apagão ibérico representa o segundo corte de energia grave na Europa em menos de seis semanas, após o incidente de 20 de março que afetou o aeroporto de Heathrow, no Reino Unido.