A Rotunda da Bateira na Foz do Arelho foi recentemente requalificada com uma nova escultura que homenageia os pescadores e mariscadores da região, tendo sido inaugurada no passado sábado. A obra, que representa um barco típico com a sua figura humana, foi essencialmente suportada pelos “Parques Eden”, num trabalho que envolveu uma equipa de três artistas: António Faustino, José Carlos e o Diogo Santos, com a colaboração de Pedro (afilhado do Sr Faustino), que não pôde estar presente na entrevista concedida à 91FM.
Na conversa com a rádio 91FM, os artistas partilharam detalhes sobre o processo criativo e de execução da obra. António Faustino, um veterano na área da escultura e cerâmica, relatou o seu percurso profissional que começou nos anos 50 como pintor de Loiça de Alcobaça, passando por Angola e África do Sul, onde chegou a deter o recorde do Guinness para a maior peça cerâmica do mundo – um jarrão de 5,36 metros que atualmente se encontra na Fundação Berardo, na Madeira.
José Carlos, escultor e modelador, foi responsável pela figura humana na obra da Bateira. O artista explicou que a peça foi feita em fibra de vidro, um material compósito formado por um tecido que se embebe em resina poliéster, que pode ser moldado como barro e posteriormente endurece com a adição de um catalisador.
Diogo Santos, serralheiro de profissão e também pescador, trouxe os seus conhecimentos técnicos e a sua experiência no mundo da pesca para garantir a autenticidade da representação. Foi ele quem sugeriu correções à primeira maquete para tornar a posição do pescador mais realista.
O processo de criação levou aproximadamente sete meses, desde a elaboração da primeira maquete até à finalização da obra. A equipa teve como desafio principal recuperar e recriar o barco original que estava em avançado estado de degradação, tendo sido necessário refazer as laterais e os apoios dos remos com poliuretano antes de criar uma réplica à escala real.



Para além desta obra, a equipa tem no seu portfólio trabalhos notáveis como as decorações no Jardim Zoológico de Lisboa, no Zoo Marine, na discoteca Kiai, e várias rotundas em Porto Alto, incluindo a rotunda dos campinos (com cinco campinos a cavalo, um touro e sete cabrestos), a rotunda do coração (símbolo de Samora Correia) e a rotunda do lavrador, inspirada numa fotografia de 1928.
António Faustino, o membro mais experiente da equipa, está atualmente a passar o negócio para as mãos dos sócios mais jovens, garantindo a continuidade deste trabalho artístico único. A equipa contou ainda com o apoio da empresa Arte Nova de Alfeizeirão, que foi responsável pelo recorte dos peixes que complementam a obra.
Esta nova rotunda promete tornar-se um ex-libris da Foz do Arelho, representando não apenas um elemento decorativo mas uma homenagem sentida à tradição piscatória da região, retratando uma cena típica dos anos 50 que preserva a memória e a identidade local.
Entrevista conduzida por Rui Vieira no “Bom Dia Oeste” para ouvir aqui:

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