No passado domingo, um grupo de voluntários de várias nacionalidades uniu-se para realizar uma ação de limpeza nas rochas e grutas da costa de Peniche, resultando numa recolha impressionante de 240 quilogramas de resíduos. Entre os detritos removidos estavam objetos tão variados como uma portada de madeira, grelhadores, almofadas, preservativos, máscaras, pacotes de leite, latas de bebidas, cascas de pistáchio, caricas, baldes, fios de pesca, maços de tabaco e beatas.
A iniciativa, que se estendeu por cerca de 1,5 quilómetros, foi impulsionada por Rúben Cotrim, de 33 anos, sócio da empresa de animação turística Sant’Aventura, localizada em Santa Cruz, Torres Vedras. Pescador profissional e praticante de escalada, Rúben decidiu agir após se cansar de ver o lixo acumulado nas rochas. Reuniu amigos e colegas de negócios na área do turismo e da escalada, e juntos organizaram esta ação de limpeza. Apesar da ampla divulgação, o evento reuniu cerca de 40 voluntários, sendo que apenas alguns eram residentes em Peniche.
“O Cabo Carvoeiro e a Nau dos Corvos são marcos de beleza em Peniche”, sublinha Rúben Cotrim. “Sentimos que era necessário fazer algo em relação ao lixo deixado por pescadores e turistas”, justifica. Durante quatro horas, os voluntários dedicaram-se a remover detritos presos nas formações rochosas e abandonados em grutas, num esforço conjunto que culminou na recolha dos 240 quilogramas de lixo.
Problemas nas Grutas e Impacto no Turismo
Romário Silva, de 29 anos, sócio da empresa Peniche 360, que organiza passeios turísticos pela costa, relatou que é frequente deparar-se com resíduos espalhados por todo o lado durante os seus passeios. “Os clientes do norte da Europa ficam bastante chocados”, afirma. Esta situação levou Romário a suspender as visitas às “varandas” naturais, formadas junto ao mar, até meados de setembro. Romário Silva lamenta o comportamento de alguns visitantes, afirmando que “há muita gente que simplesmente não respeita o espaço”. A situação é particularmente grave na Gruta da Furninha, onde frequentemente se encontram lixo, fezes e urina. “Esse lixo acaba no mar, é consumido pelos peixes, e eventualmente chega aos nossos pratos”, alerta.
Enquanto os pescadores são frequentemente apontados como responsáveis, António Jacinto, de 69 anos, garante que leva sempre o lixo para casa. Contudo, denuncia que “há quem venha para aqui beber à noite e acabe por enfiar o lixo nos buracos das rochas”. Cidália Alves, uma professora de 63 anos, também lamenta o estado das “varandas” naturais e partilha a sua frustração: “É triste não haver multas, como acontecia na Praia Porto Dinheiro, onde a Polícia Marítima fiscalizava e multava quem estivesse perto do lixo”.
Compromisso com a Limpeza e Sensibilização
Miguel Reis Silva, de 42 anos, coordenador executivo do Geoparque Oeste, também se juntou à limpeza das zonas de escalada. “Não podemos apenas promover estas ações, temos de estar presentes porque partilhamos das mesmas preocupações”, afirma. Defensor da responsabilidade individual na gestão do lixo, Miguel reconhece que ainda há muito a ser feito. “O Geoparque Oeste e o Município estão a trabalhar na criação de sinalização de limpeza e sensibilização junto das comunidades, com o objetivo de minimizar situações como esta”, conclui.