Num tempo marcado por avanços tecnológicos acelerados, tensões geopolíticas e desafios ambientais crescentes, Alfredo Sfeir Younis defende uma transformação que começa dentro de cada um. Economista, ex-diretor do Banco Mundial e especialista em desenvolvimento sustentável, Alfredo Sfeir encontrou na pacata aldeia da Columbeira, na região Oeste, o cenário ideal para aprofundar o seu trabalho de reflexão e espiritualidade.
Com um percurso de três décadas no Banco Mundial, onde foi pioneiro na introdução de temas como a ecologia espiritual, direitos humanos e desenvolvimento ético, Sfeir poderia ter optado por uma aposentação tranquila. Em vez disso, decidiu dedicar a sua vida ao serviço dos outros — não apenas dos seres humanos, mas de todos os elementos da natureza. “Não podemos viver bem destruindo a natureza. Se nós estamos doentes, a natureza também está doente”, afirma.
Segundo Alfredo Sfeir, vivemos hoje divididos entre dois caminhos: o da expansão do ego ou o da compaixão e interdependência. Para o ex-economista, a tecnologia atual, por mais avançada que seja, não está a ser acompanhada por um crescimento ético proporcional. “Temos mais ferramentas, mas menos ligação interior. Estamos a comunicar para não comunicar”, alerta.
Foi em 2005 que se mudou para Portugal. Primeiro viveu em Lisboa, mas acabou por se estabelecer na nossa região, onde encontrou o sossego necessário para escrever, ensinar e desenvolver o seu pensamento espiritual. “A floresta foi uma universidade para mim”, afirma. Ali sente-se em casa. “Portugal é o meu segundo país.”
O seu pensamento é guiado por um princípio simples, mas profundo: “Eu sou porque tu és.” Esta máxima, de raiz africana, resume a sua visão de mundo — uma sociedade onde ninguém se realiza sozinho e onde o bem-estar coletivo é inseparável do bem-estar individual. Para ele, essa filosofia deveria orientar não apenas relações pessoais, mas também políticas públicas e sistemas económicos.
Durante a conversa, deixa o alerta: a velocidade das mudanças no mundo atual está a ultrapassar a capacidade da mente humana de compreender e reagir. A educação, diz, continua centrada no “ter” e no “fazer”, quando deveria investir também no “ser”. A proposta é clara: “Precisamos de uma sociedade de 200 por cento — 100 por cento benefício material, 100 por cento benefício espiritual.”
Apesar dos desafios globais, Sfeir acredita que esta é também uma oportunidade única na história da humanidade. “Pela primeira vez, o mundo está completamente interligado. O que acontece na China ou nos Estados Unidos afeta-nos diretamente. Mas temos de acompanhar esta ligação externa com uma ligação interna.”
A sua mensagem, mais do que filosófica, é prática: urge desenvolver uma nova forma de estar no mundo, onde a consciência espiritual, o respeito pela natureza e a compaixão sejam pilares fundamentais. “Sabemos fazer carros e moradias. Agora temos que aprender a fazer realidade interior”, conclui.
Entrevista na íntegra :